José Paulo do Carmo 28/10/2016
"A profecia da música"
Na música temos o reflexo da sociedade. Não é de agora. As primeiras formas de revolução e de alteração de comportamentos e mentes deram sempre os seus primeiros sinais através dela. Basta estarmos um pouco atentos à história do nosso passado para perceber como são inevitáveis e, ao mesmo tempo, interpretáveis. E neste aspeto específico vivemos os últimos anos adormecidos e embrenhados em ritmos e sonoridades cada vez mais comerciais, iguais na sua génese e orientados apenas e só para o ouvido pouco cultivado. Aprendemos a massificar informação, a globalizar a economia, a comunicar produtos e a fazê-los chegar com a mesma força a todo o lado, mas depois esquecemo-nos de dar as ferramentas para que as massas pudessem crescer e cultivar-se dentro de uma lógica de conhecimento diversificado. E assim construímos um mundo de pessoas iguais, feitas de gostos similares, mas a música já nos tinha mostrado que esse estava a ser o caminho escolhido: feita sem amor, sem sentimento e sem prazer, com “músicos” construindo--se para o negócio, numa procura de fama, dinheiro e exposição. Essa época está a morrer. A EDM está a cair, os DJ vão perder espaço e voltar a ser apenas DJ ( o que não é nada pouco…) e as bandas vão regressar. Cada um no seu lugar. Mas mais do que isso. O que era tudo igual vai dar lugar a um público interessado em encontrar dinâmicas alternativas e estilos diferentes. É por isso que estamos a entrar numa nova era das “músicas do mundo”. O multiculturalismo, a procura da experiência de algo mais sensorial que nos desperte vontade de mexer e que nos ajude a limpar a loucura do dia- -a-dia através de momentos que nos façam sonhar, nos ajudem a divertir-nos e a percecionarmos os sons das diferentes idiossincrasias que o globo nos apresenta de uma forma mais intensa e conhecedora. As pessoas revelam-se cada vez mais interessadas em pesquisar sonoridades diferentes que as façam entender melhor outro tipo de culturas, e cada vez mais é possível ver que estamos perto de perder o complexo de admitirmos que gostamos daquilo de que gostamos, mesmo que seja diferente. Isso faz-nos voltar também às festas temáticas, à diversão mais pura e não tão plastificada, aos estilos mais carismáticos e poderosos, como o jazz ou o disco, e a novos sons que aparecerão com essa lógica em mente. E cada vez mais iremos ver amigos nossos em associações africanas ou em casas indianas e russas e brasileiras ou outras, à procura de explorar a música que irrompe por essas portas e se traduz em danças mais genuínas e sentimentos menos corrompidos. A profecia da música leva-nos a um admirável mundo novo em que a criatividade se funde com a alma e nos traz algo de fascinante. E ela tem-nos demonstrado que devemos acreditar que tudo está a mudar novamente. E é natural que tivéssemos passado por um período mais incaracterístico porque esta força brutal da globalização e da massificação de conceitos não vinha com livro de instruções e muitos de nós acabaram por entrar na mesma “dança”. É altura de saber seguir essas novas sonoridades que vão voltar a trazer-nos a alegria e a magia e serão o reflexo de um relacionamento entre as pessoas também diferente. Mais melódico, mais profundo, mais feliz."