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25 de Novembro de 2016

ESPECIAL - A minha vida sem Freddie Mercury

Faz 25 anos que falecia um dos maiores músicos de todos os tempos - Freddie Mercury Ano de 1991, 24 de Novembro, o mundo espantava-se com o sucedido. O carisma, o talento, o arrojo, e sobretudo a sua música, legado que ficaria para a posteridade. Para que a memória o reviva, o “Musikes” assinala este momento com um fabuloso texto de Bruno Vieira Amaral (crítico literário, tradutor e autor).

***

Obervador 24 Novembro 20161.088 Bruno Vieira Amaral

“25 anos depois da morte do músico, Bruno Vieira Amaral recorda-o: "O medo do ridículo é o de nos confrontarmos com a nossa verdadeira dimensão. E a dimensão dele não era deste mundo".

A minha vida sem Freddie Mercury começou umas semanas antes da sua morte, a 24 de novembro de 1991. Além do célebre Pop-Off, com a musa Sofia Morais, e as suas bandas portuguesas alternativas (“Sopa”, dos Censurados, “Budapeste”, dos Mão Morta, e os Lulu Blinda gritar em inglês da secundária “Rita, hot pussy, I hate you”, foram grandes sucessos da época), a RTP2 tinha um programa mais convencional ao final da tarde em que passavam os chamados vídeoclips das bandas mainstream (tenho a impressão de que, na altura, passavam muitas vezes o “(I Hate) Everything About You”, dos Ugly Kid Joe – havia muito ódio pronto a consumir naquelas canções – o “Don’t Cry”, dos Guns, o mega-sucesso xaroposo de Bryan Adams na floresta de Sherwood “(Everything I Do) I Do It For You”, que ocupou o 1º lugar da tabela de vendas durante uma eternidade e, claro, o “More Than Words”, dos Extreme – a banda de Gary Cherone e Nuno Bettencourt, que exibia, orgulhoso, uma bandeira portuguesa elevando o nosso orgulho patriótico a extremos nunca vistos desde que alguém descobrira que Glenn Medeiros, o rapaz de roupa branca que cantava “nothing’s gonna change my love for you, iúóranobáinauaomacheailuviú”, era descendente de açorianos – canção que os rapazes dotados de sensibilidade artística e de uma guitarra acústica tocavam nos intervalos das aulas para raparigas dispostas a pôr as vidas nas mãos de qualquer banda de rock). Bem, numa dessas tarde, creio que no início de novembro, passaram um vídeoclip dos Queen, “The Show Must Go On”, e havia qualquer coisa naquela música, talvez uma grandiosidade dramática, um sopro sinfónico, que me arrebatou de imediato.

Queen - The Show Must Go On (Official Video) Ver em: https://www.youtube.com/watch?v=t99KH0TR-J4

Eu conhecia os Queen – quem é que não conhecia? – e até sabia de cor a letra do “I Want it All” que certa vez tinha saído num destacável de uma revista qualquer – muito provavelmente a TV 7 Dias (tenho ideia de que a revista foi lançada em 1987, no mesmo ano em que os Queen lançaram o álbum The Miracle, e que na capa da primeira edição da revista aparecia o peludo Tony Ramos, protagonista de uma telenovela que então passava na RTP, “Selva de Pedra”, mas isto já interessa pouco). Além disso, havia uma série de sucessos inescapáveis como “I Want to Break Free” – com o infame vídeoclip em que Mercury, Brian May, Roger Taylor e John Deacon apareciam travestidos, uma opção bastante fiel ao espírito da banda mas que significou uma sentença de morte no mercado norte-americano que tentaram reconquistar em 1984 com o álbum The Works – “A Kind of Magic” – da banda sonora do “Duelo Imortal”, em que o vesgo Christopher Lambert se entretinha a decapitar inimigos – ou o hino dos estádios, “We Are The Champions”, cujo refrão deve ser tão conhecido como a oração do Pai Nosso ou como a letra do “Parabéns a Você”, com que qualquer ser humano que vivesse deste ou mesmo do outro lado da cortina de ferro – os Queen deram um célebre concerto em Budapeste em 1986 – já se cruzara obrigatoriamente.

Queen - I Want To Break Free (Official Video) Ver em: https://www.youtube.com/watch?v=f4Mc-NYPHaQ

Mas o meu conhecimento sobre a banda era diminuto e só me apercebi disso quando, pouco tempo depois de ver “The Show Must Go On” no programa da RTP2, foi anunciada a morte de Freddie Mercury. Nos dias e semanas que se seguiram, as rádios passaram centenas de vezes as canções da banda e descobri coisas notáveis como o facto de Vanilla Ice – a resposta branca a MC Hammer – ter roubado a linha de baixo a “Under Pressure” para o seu grande êxito, “Ice, Ice, Baby” que, naquele ano de 1991, tinha sido, juntamente com os Enigma e os Tecnotronic, a banda sonora das nossas “visitas de estudo” ao Alentejo e às grutas de Mira de Aire onde os alunos da Escola Preparatória D. João I, da Baixa da Banheira, ficaram retidos durante algumas horas até devolverem todos os artigos que tinham roubado da loja de recordações (eu, que tinha comprado umas canecas com os nomes dos meus familiares, roubei uma daquelas canecas das “maminhas” e uns postais). Também descobri que “We Will Rock You” era dos Queen (o Miguel, que tinha sido meu colega no 5º ano e voltou a ser meu colega no 8º, é que conhecia bem a fase dos anos 70. Ele era um dos rapazes das guitarras pelos quais as raparigas suspiravam), que o Greatest Hits II era mesmo o segundo volume de grandes êxitos e não um erro tipográfico, que antes de serem Queen tinham sido Smile e que o verdadeiro nome de Freddie Mercury era Farrokh Bulsara, nascido no Zanzibar e oriundo de uma família de seguidores do Zoroastrismo.

Reveja aqui fotos de Freddie Mercury e dos Queen 12 fotos Ver em: http://observador.pt/especiais/a-minha-vida-sem-freddie-mercury/#

Claro que aquilo de que mais se falou nos dias após a morte de Mercury foi da causa da morte. O vocalista dos Queen não era a primeira figura pública a morrer de sida – em 1985, a morte de Rock Hudson já tinha tido um impacto enorme – mas era a primeira estrela de dimensão universal a sucumbir ao flagelo. Começaram a circular então as histórias dos seus excessos, das lendárias orgias que organizava e que eram alimentadas a cocaína, da sua (bi)sexualidade voraz e do seu estilo de vida acelerado que contrastava com a aparente tranquilidade dos restantes membros da banda. Apesar de muitas das canções mais conhecidas da banda terem sido compostas por Deacon (“Another One Bites the Dust”, “I Want to Break Free”), Taylor (“A Kind of Magic”, “Radio Ga Ga”) e May (“We Will Rock You”, “Who Wants to Live Forever”), havia a sensação geral de que era Mercury que encarnava o espírito distintivo do grupo e que lhe dava o je ne sais quoi que fazia dos Queen uma banda à parte. E era verdade. Se aquelas canções podiam ser de uma banda qualquer, outras como “Seven Seas of Rhye”, “Killer Queen”, “Good Old-Fashioned Lover Boy”, “Seaside Rendezvous”, “The Millionaire Waltz”, “Somebody to Love”, “Lazy on a Sunday Afternoon” e, claro está, “Bohemian Rhapsody”, eram uma espécie de marca de água dos Queen e eram todas de Mercury. Nenhuma outra banda se atreveria a compor aqueles hinos camp, músicas de cabaret, vaudeville, gospel e music-hall, operáticas e megalómanas, que poderiam bem ter sido compostas por Kurt Weill e cantadas por Marlene Dietrich ou, mais tarde, por Eartha Kitt (a propósito de Kitt, oiça-se, por exemplo, “Just an Old Fashioned Girl”, uma canção que não ficaria mal no repertório de Mercury). E nenhuma banda o faria porque nenhuma tinha uma figura como Mercury, a voz de Mercury e o piano clássico de Mercury.

Queen - Bohemian Rhapsody (Live At Wembley Stadium, Saturday 12 July 1986) Ver em: https://www.youtube.com/watch?v=oozJH6jSr2U

Claro que tantos excessos teatrais e operáticos (por exemplo, “It’s a Hard Life”, do álbum The Works, arrancava com um excerto de “Pagliacci”, de Leoncavallo) faziam dos Queen uma banda eminentemente foleira. Um amigo meu, o Nuno, para me chatear dizia que, para os ingleses, a entrada de Mercury no palco de Wembley com manto, coroa e ceptro, era o equivalente ao Roberto Leal se apresentar com um fato com as cores da bandeira de Portugal – e tinha alguma razão. Bastava ler qualquer edição do Blitz – a leitura obrigatória das nossas terças-feiras de secundária – para se perceber que os Queen eram o oposto dos gritos de revolta juvenil do então nascente grunge, que eram um inaceitável espectáculo de circo quando comparados com a sofisticação angustiada e urbano-depressiva dos Smiths, dos The Cure (Robert Smith chegou a dizer que os Queen lhe metiam nojo) ou dos Joy Division, que os Queen eram, enfim, o zénite do mau gosto. E eram precisamente esses defeitos – que Freddie Mercury encarnava na perfeição e que, na verdade, só a sua personalidade extravagante e bigger than life tornava digeríveis – que me atraíam. Indiferente às recomendações do bom gosto, juntava literalmente os tostões – as moedas pretas que a minha mão trazia do trabalho – para comprar cassetes na discoteca Formiguinha, ali perto da ponte sobre a linha do comboio, na Baixa da Banheira. Nenhuma outra banda se atreveria a compor aqueles hinos camp, músicas de cabaret, vaudeville, gospel e music-hall, operáticas e megalómanas. E nenhuma banda o faria porque nenhuma tinha uma figura como Mercury, a voz de Mercury e o piano clássico de Mercury. Foi assim que comprei o primeiro volume dos Greatest Hits e o Innuendo, a dois contos e duzentos cada um. Gravei o concerto de homenagem a Freddie Mercury, realizado no estádio de Wembley em 1992, transmitido em direto pela RFM e, dias depois, num sábado à tarde, pela RTP (concerto em que participaram entre muitos outros os Extreme, Axl Rose e, como não podia deixar de ser, Liza Minelli. O momento alto do concerto foi a interpretação de George Michael do clássico “Somebody to Love” – quando a voz dele subiu aos píncaros para atingir aquela nota aguda, bem, o mundo parou). Acho que acabei por gravar por cima da cassete VHS o resumo do jogo do Benfica no estádio Ulrich Haberland, no célebre 4-4 contra o Bayer Leverkusen. Também me socorri de uma rede alargada de contactos que tinham álbuns em vinil ou cassete e que mos gravaram ou ofereceram: o Jorge “Anjinho” tinha o A Kind of Magic, o Chiquito arranjou-me o Greatest Hits II, a minha professora de francês do 8º ano, Fortunata, emprestou-me o The Miracle para eu o gravar, a minha tia Nilde ofereceu-me uma velha cassete do A Night at the Opera que devia ter pertencido ao marido, o meu tio ofereceu-me uma cassete do álbum Freddie Mercury no Natal de 1992 e, meses depois, a minha tia Cinda surpreendeu-me com o Live at Wembley, em duas cassetes a que perdi o rasto.

Queen - Somebody To Love (Official Video) Ver em: https://www.youtube.com/watch?v=kijpcUv-b8M

Durante dois ou três anos, juntei tudo o que encontrava sobre os Queen. Até que, como todas as paixões juvenis, aquela também esmoreceu e transferi os meus sentimentos de lealdade e admiração para outras bandas, para outros artistas e para outros autores. Quando, em 1995, saiu o álbum Made in Heaven, comprei-o mais por fidelidade ao fã de outrora do que por convicção genuína. Eu já era outro. No entanto, ao olhar para trás, vejo que, em certos pontos, a minha admiração pelos Queen e por Freddie Mercury, permanece intacta. Aquela sensibilidade megalómana, excessiva e histriónica ainda comunica comigo. Diria que é um pouco como a minha relação com “Os Dez Mandamentos”, filme que vi pela primeira vez aos dez anos e que revi há pouco tempo. A grandiosidade bíblica, faraónica, em technicolor continua a impressionar-me. Nenhum espírito criativo, creio, quer fazer outra coisa que não “Os Dez Mandamentos” – por muito modesta que se apresente a poesia, por muito povera que seja a arte, o criador quer que no seu poema de três linhas caibam todos os figurantes, todos os escravos de Ramsés, todos os hebreus, todo o Mar Vermelho. Todo o criador é, no seu íntimo, um Cecil B. DeMille, a coreografar milhares de figurantes, a erguer as cidades visíveis do Vale do Nilo. O músico pode escrever aquela canção de três minutos mas, no fundo, deseja que dure três horas e trinta e nove minutos ou, pelo menos, os 5 minutos e 55 segundos de “Bohemian Rhapsody”, que seja tudo e o seu contrário, ópera e rock, túnicas e lantejoulas. Por isso ainda hoje amo “Os Dez Mandamentos” e amo também aquela figura exemplar do mau gosto que se apresentava aos súbditos de ceptro nas mãos e coroa na cabeça, que não temia o ridículo porque sabia que o medo do ridículo é, muitas vezes, simplesmente o medo de nos confrontarmos com a nossa verdadeira dimensão. E a dimensão dele não era deste mundo. (…)”

Link… http://observador.pt/especiais/a-minha-vida-sem-freddie-mercury/

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19 de Novembro de 2016

“As tecnologias não facilitam a vida do professor, antes a complicam” Em entrevista ao EDUCARE.PT, António Luís Valente alerta pais e educadores para as virtudes e defeitos das novas tecnologias. E confessa que se não tivesse sido professor teria sido engenheiro. “Tive sempre uma pré-disposição para pegar nas máquinas e usá-las para potenciar as minhas competências e obrigações profissionais.” Andreia Lobo 16-11-2016

“Integrou as equipas de vários projetos europeus ligados à “sociedade da informação”, como o ZAP, eSchola, ValNet, CONET e SeguraNet. António Luís Valente é, desde 1997, investigador no Centro de Competência TIC, da Universidade do Minho. A entidade que liderou a primeira sondagem feita em Portugal sobre comportamentos seguros na Internet. Foi professor do 1.º ciclo e não esquece a surpresa que causou ao levar “tecnologia" para a sala de aula. “Comecei a usar computador – o meu próprio computador - com os alunos em 1990 e era visto como um ser extraterrestre. Foi isso que me levou a procurar sempre mais formação nesta área.” Fez pós-graduações, mestrado e doutoramento, sempre ligados às Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).

Em entrevista ao EDUCARE.PT, António Luís Valente alerta pais e educadores para as virtudes e defeitos das novas tecnologias. E confessa que se não tivesse sido professor teria sido engenheiro. “Tive sempre uma pré-disposição para pegar nas máquinas e usá-las para potenciar as minhas competências e obrigações profissionais.”

EDUCARE.PT (E): O que ainda precisamos de mudar na forma como utilizamos a Internet?

As pessoas têm medo do que é estranho. Mas não conhecendo nada sobre Internet não têm receios, nem cautelas. É preciso perceber que a Internet não é diferente do resto da sociedade. Não é um mundo à parte. E, por ser menos conhecido, não é mais protegido. Há a sensação que somos todos peritos na Internet. E assim se negligenciam aspetos básicos de segurança.

A Internet é uma vertente do mundo em que nós vivemos. As virtudes e os defeitos são rigorosamente os mesmos e, em alguns casos, são ampliados pelo facto de as pessoas pensarem que estão a coberto do anonimato.

Mas não é fácil as pessoas perceberem que não sendo capazes de colocar o seu nome completo na porta da casa, colocam todos os dados na Internet. As pessoas têm de ter na Internet todos os cuidados que têm fora dela. Claro que há alguns cuidados acrescidos. Até porque existem muitas coisas na Internet que não existem na vida real, nomeadamente a rapidez.

E: É isso que temos de ensinar às crianças? ALV: Os adultos ensinam às crianças defesas pessoais preventivas. Por exemplo, a não falarem com estranhos, a não aceitarem gratuitamente qualquer coisa. Se sobre a Internet não ensinamos nada, eles acabam por investigar – a curiosidade é boa e deve ser incentivada – mas é preciso dar-lhes algumas pistas sobre o que pode ser arriscado ou não. Ensinar a criança a andar na Internet é como ensiná-la a andar na rua.

Há pais que não deixam os adolescentes saírem à noite. Ou se deixam marcam hora para o regresso a casa. Impõem regras porque consideram que andar na rua depois de uma determinada hora é perigoso. Mas na Internet não colocam esse tipo de balizas. Não ensinamos as crianças a distinguir os amigos dos conhecidos. No entanto, em nossa casa dizemos este é amigo, aquele é vizinho...

Muitas vezes, os pais argumentam que os filhos aprendem por si próprios e, por isso, não há problema. Mas se a criança chegar a casa com a cara esmurrada, vão ver o que aconteceu. Se a criança for agredida de qualquer forma num site, ou levada para sites que não são próprios para a sua idade, não há evidência visível que leve os educadores a aproximarem-se dela.

E: E aos adultos? ALV: Há coisas que todos nós fazemos quando utilizamos a Internet que são uma completa negligência em termos de segurança pessoal. Subscrevemos serviços gratuitos e colocamos lá informação pessoal, com a maior das facilidades em troca de podermos ter uma caixa de correio eletrónica. Depois, colocamos lá toda a nossa informação, fotografias, vídeos pessoais, familiares e damos outros contactos para o caso de perdermos a password e precisarmos de a recuperar. Expomo-nos na Internet como não fazemos na vida real. Hoje em dia quem é que preencheria um formulário completo, num hipermercado, com morada e contactos e gostos pessoais, com fotografia sua e da família?

As pessoas colocam a informação online com a maior das confianças e pior, muitas vezes, não sabendo onde ela está armazenada. Ou então pensam que sabem, dizem está "na nuvem". Não saber onde alguma coisa está, do ponto de vista físico, é preocupante. Se nos esquecemos do local onde estacionamos o carro, mesmo tendo connosco a chave ficamos em pânico. No entanto, colocamos na “nuvem” documentos pessoais, trabalhos, teses.

Há dias uma pessoa contou-me que ia pondo automaticamente tudo na Internet e as passwords estavam gravadas no computador que avariou. A pessoa não sabia as passwords. É uma noção falsa de segurança pensar no computador como o fiel depositário das nossas informações. O conhecimento de como funciona a tecnologia, de quais são os riscos e como nos podemos precaver é fundamental.

Brinca com o telemóvel!

E: Qual é o problema de os pais colocarem, desde cedo, tablets e smartphones nas mãos das crianças? ALV: Há imensos trabalhos de investigação acerca dos efeitos da utilização de superfícies tácteis sobre o desenvolvimento neuronal. Ou seja, aquilo que nos permite perceber que uma fotografia não é um objeto, mas sim uma representação de um objeto. O mecanismo neuronal que produz essa identificação parece que é afetado pela utilização precoce de superfícies tácteis porque as crianças acham que estão a mexer num objeto tridimensional e não estão.

Por outro lado, os dispositivos eletrónicos não estão suficientemente testados, em alguns casos nada testados, do ponto de vista ergonómico e sobre as influências que terão. Sabe-se que a luz dos ecrãs tem influência sobre as pessoas epiléticas. Mas a aproximação à realidade do táctil e à eficácia do movimento não está estudada. O mesmo se aplica ao efeito das radiações: todos os tablets ou telemóveis hoje em dia têm wi-fi, a maioria também tem bluetooth.

Estamos apenas a falar da parte física que pode melhorar muito e rapidamente. Mas há outra parte do problema, que não se melhora assim tão rapidamente e diz respeito aos conteúdos. Ou seja, à utilização educativa ou para a aprendizagem do que está dentro desses dispositivos. Muitas vezes os conteúdos são de pouca ou nenhuma qualidade, resultam apenas da transposição do analógico para o digital, pura e simples.

E: O uso de tecnologias garante a aquisição das tão “proclamadas” competências digitais? ALV: A sociedade confunde as competências para o século XXI – para a era digital – com competências digitais. As competências do século XXI continuam a ser as do século anterior apenas se acrescentou a digital, que consiste na capacidade de vivermos, entendermos e comunicarmos neste mundo utilizando as tecnologias digitais. Mas para viver e comunicar neste mundo, precisamos antes de mais de saber comunicar e isso não tem a ver com as tecnologias.

Há estudos sobre níveis de literacia absolutamente denegridores. As competências sociais são importantes. A questão de saber como funcionam as amizades, como criamos amigos e nos defendemos dos falsos amigos. A competência de procurar emprego continua a ser necessária. Posso ser um informático com capacidade para usar qualquer dispositivo e ser uma pessoa inapta em termos de comunicação face a face.

E: Então, é errado pensar que ao dar tablets e smartphones às crianças estamos a ajudá-las a desenvolver essas competências? ALV: Pensar que a exposição é equivalente ao desenvolvimento de competência digital é errado. Não é pelo facto de andar muitas vezes de carro que eu aprendo a conduzir. Claro, há um conjunto de familiaridades e de aprendizagens, ligadas à interação com as interfaces, que quanto mais cedo forem adquiridas mais se desenvolvem. Mas não passa disso. Se pensarmos que isso é suficiente ou essencial é errado, até pelo facto de essas interações mudarem. Recorde-se que no surgimento dos teclados algumas pessoas que sabiam datilografia não conseguiam teclar…

E: Ou seja, o que as crianças estão a aprender agora pode mudar? ALV: Muda de certeza absoluta. Hoje as interfaces são quase todas parecidas, independentemente dos sistemas operativos que utilizam. Mas as crianças estão a usar interfaces que vão mudar muito no futuro. Imagine que mudam fisicamente os ecrãs? Estamos habituados a ecrãs rígidos, mas se eles se tornarem enroláveis – tecnicamente já existe – há de haver alguma coisa diferente. Estou convencido que vamos ter ecrãs em materiais diferentes e isto vai implicar a alteração das interfaces. Dar a uma criança na primeira infância uma interface com o objetivo de ela se familiarizar é uma perda de tempo. E um desperdiçar de outras aprendizagens, como a de riscar, sentir as texturas, que ela precisava agora. No ecrã a textura é toda igual.

E: Há pais que caem no extremo de impedir que os filhos utilizem as tecnologias... ALV: Os pais e os educadores precisam de estar informados e de refletir mais sobre estas questões. De uma maneira geral – e coloco-me neste plural – somos tentados pelas soluções mais rápidas. É mais fácil dar o telemóvel à criança e pô-la a ver o Ruca do que pegar nos blocos de construção e brincar um bocadinho. Os bebés e as crianças gostam dos objetos analógicos. Mas se nós não lhes dermos como é que os vão apreciar? Com os computadores e as tecnologias, damos pouca oportunidade aos objetos manipuláveis. Mas há muitos jogos com objetos físicos tridimensionais reais que os miúdos gostam de fazer. É preferível dar-lhes um boneco desmontável do que pôr-lhes um tablet à frente.

Tecnologias e aprendizagem

E: Como se ensina melhor as crianças? Através do multimédia ou de um registo mais tradicional? ALV: A maioria dos professores de 1.º ciclo não utiliza quase nada de multimédia nas aulas. Mas entre os que utilizam, ainda não consegui ver nada que fosse redondamente convincente que os tornasse melhores professores do que os outros. O fundamental é um equilíbrio entre a competência profissional e os recursos à disposição. Se o aluno não se entusiasmar ou se não se interessar, não vai ter vontade de aprender. Se a vontade estiver apenas em quem quer ensinar não há hipótese de aprendizagem.

Conheço bem a realidade dos professores portugueses no 1.º ciclo. Têm bons resultados e continuam a ter uma utilização residual das tecnologias. Porquê? Por não estarem à vontade com as tecnologias e, muitas vezes, por não terem esses recursos. Por isso, valorizam os outros. Se tivessem algum acompanhamento para utilizar tecnologicamente os recursos disponíveis na sociedade, seriam ainda melhores professores. Garanto que sim! Aliás, é essa a minha luta.

E: Mas ao usar a tecnologia na sala de aula, o entusiasmo é garantido… ALV: Claro que, se lhes dermos essa hipótese, as crianças em idade escolar – sejam do 1.º ciclo ou mais tarde um bocado – vão escolher usar as tecnologias. Mas se pensarmos bem, o livro também é uma tecnologia!

Em termos de utilização pedagógica, no sentido de valorizar ou melhorar a aprendizagem, não sou exclusivamente defensor das novas tecnologias. As novas tecnologias utilizadas por um professor competente na sua utilização são mais eficazes que as outras tecnologias. Se o meu objetivo é desinquietar o aluno e motivá-lo, tenho muitos mais pontos por onde o “atacar” usando essas novas tecnologias. Se o professor for incompetente com as tecnologias mais vale estar quieto. Vejo professores a fazerem aulas com PowerPoint e passagens de vídeos e não vale a pena. É perder tempo.

E: Porquê? ALV: É perder tempo porque se gera o efeito contrário. Os alunos podem desmotivar e criar um sentimento de aversão à tecnologia. Na Universidade, ouvimos muitas vezes os alunos perguntarem com fastio assim que nos veem ligar o computador: “Vai passar um PowerPoint?” Porque estão fartos. A nossa capacidade de ser críticos perante o que utilizamos como recurso educativo é muito importante. Se não for competente do ponto de vista tecnológico não vou conseguir ser crítico com as tecnologias que vou usar. De uma maneira geral, os professores precisam de conhecer melhor as suas potencialidades e fragilidades. Precisam de ter consciência que as tecnologias não facilitam a vida do professor, antes a complicam.”

http://www.educare.pt/noticias/noticia/ver/?id=116402

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