“A curiosidade é como a sede…
Com o passar do tempo… ela continua a crescer. – Musikes”
Assinala-se hoje os 30 de anos de um grande músico português.
Foi em 1987 que José Afonso legava ao mundo a sua herança musical. Um vulto incontornável da música portuguesa, o homem que marcou o antes e depooois de Zeca Afonso, como era conhecido.
Hoje é um dia especial para os músicos e todos aqueles que são amantes dessa musa.
O “Musikes” assinala este dia co mais uma partilha, esperando que todos o lembrem pela vida fora.
Boas leituras e audições!
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“O Homem que cantou a liberdade morreu há 30 anos“
Jornal de Notícias (23/02/2017)
“Um mar de gente e de cravos vermelhos inundou Setúbal, no dia 24 de fevereiro de 1987, quando Zeca Afonso foi sepultado, no cemitério de Nossa Senhora da Piedade.
Mais de 30 mil pessoas, segundo números oficiais então divulgados, acompanharam o músico, o compositor, o poeta, o combatente, o criador de "Grândola, vila morena", que morrera na madrugada anterior, 23 de fevereiro, aos 57 anos, no hospital da cidade.
A antiga Escola Industrial e Comercial de Setúbal, onde José Afonso fora professor duas décadas antes, e de onde a ditadura o expulsara, acolheu o seu corpo. No pátio e nas ruas em volta, onde já não cabia mais gente, recitavam-se versos da "Trova do vento que passa", de Manuel Alegre: "Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não."
Por volta das 15 horas, quando a urna, levada em ombros por amigos do músico, apareceu ao cimo das escadas da escola, a multidão, sem qualquer aviso ou combinação prévia, começou a cantar "Grândola, vila morena", a senha do 25 de Abril. Foi a primeira de muitas canções de José Afonso entoadas durante essa tarde.
Os músicos Francisco Fanhais e Luís Cília encabeçavam o grupo que transportava o caixão, coberto por um pano vermelho, sem qualquer símbolo, como o músico pedira, rodeado de cravos e com um pão aberto.
Nas horas seguintes, operários da antiga cintura industrial de Lisboa e pescadores de Setúbal, amigos de José Afonso, familiares, companheiros de percurso, como José Mário Branco, Sérgio Godinho ou Júlio Pereira, revezar-se-iam no transporte do corpo.
No funeral de José Afonso, não havia luto. Esse era outro dos desejos do cantor.
Todos se juntaram, homens e mulheres, novos e velhos, jovens e crianças, quase sempre de cravo vermelho e punho direito cerrado e erguido. Todos cantaram aquela que ficou eternizada como sendo a música da liberdade, "Grândola, vila morena".
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Muitas fábricas deram tolerância aos trabalhadores, para acompanharem o funeral de José Afonso, assim como a Câmara Municipal de Setúbal, a cidade onde este fundara, ainda antes da Revolução dos Cravos, o Círculo Cultural.
Sindicatos, cooperativas, grupos desportivos, empresas, comissões de trabalhadores, partidos e movimentos políticos manifestaram o seu pesar.
A chegada ao cemitério foi feita ao som da "Balada do outono": "Águas das fontes calai/Ó ribeiras chorai/Que eu não volto a cantar". Populares agitaram lenços brancos e vermelhos e a filarmónica voltou a tocar "Grândola".
José Mário Branco, Francisco Fanhais, Luís Cília, João Afonso, Pi de la Serra e Camilo Mortágua carregavam a urna. Às cinco e meia, foi depositada na campa rasa n.º 1606.
Foi "um enterro a cantar", num "cemitério vivo", escreveu Nuno Ribeiro, o repórter do Diário de Lisboa.
No final dessa tarde cinzenta e nebulosa, populares gritavam "Zeca estará sempre vivo", e um grupo de jovens, de cravos vermelhos nas mãos, erguia uma enorme faixa branca onde se lia "Zeca, não morrerás entre nós".
Biobibliografia de José Afonso
José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos nasceu em Aveiro, no dia dois de agosto de 1929, licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, em Coimbra, com a defesa de uma tese sobre Jean-Paul Sarte, no início dos anos de 1960, depois de já ter gravado os primeiros discos com Rui Pato e de ter atuado com José Niza.
Lecionou em escolas de Portugal continental, assim como de Angola e Moçambique, até que a contestação à ditadura e à guerra colonial o levou à prisão pela PIDE, a polícia política do regime, e à expulsão do ensino oficial, em 1968, no qual só viria a ser reintegrado quase 10 anos após o 25 de Abril.
Depois de "Baladas e canções" (1964) e "Cantares do Andarilho" (1968), gravou "Contos velhos rumos novos" (1969), "Traz outro amigo também" (1970), "Eu vou ser como a toupeira" (1972).
Os álbuns "Cantigas do Maio" (1971), que inclui "Grândola, vila morena", e "Venham mais cinco" (1973), o disco de "Era um redondo vocábulo", ambos gravados em França, contaram com a produção e direção do músico e compositor José Mário Branco.
Publicados antes do 25 de Abril de 1974, estes álbuns garantiram a José Afonso os Prémios da Casa de Imprensa de melhores discos e de melhor interpretação, em anos sucessivos, e estabeleceram a fronteira entre a música portuguesa "antes de José Afonso e depois de José Afonso", como afirmam os seus companheiros.
No percurso do músico, seguir-se-iam "Coro dos tribunais" (1974), "Com as minhas tamanquinhas" (1976), "Enquanto há força" (1978), "Fura fura" (1979), "Fados de Coimbra e Outras Canções" (1981), "Como se fora seu filho" (1983) e o derradeiro álbum de originais, "Galinhas do mato" (1985), já cantado por outros músicos.
De 1974 a 1975, envolveu-se nos movimentos populares. O PREC - Processo Revolucionário em Curso "era a sua paixão", como recorda a biografia da Associação José Afonso.
Atuou para os soldados do Regimento de Artilharia de Lisboa, a 11 março de 1975, colaborou com a LUAR - Liga de Unidade e Ação Revolucionária, de Palma Inácio e Camilo Mortágua, apoiou a candidatura presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho, em 1976, e a de Maria de Lourdes Pintasilgo, em 1986.
Veio a tocar no Festival Printemps de Brouges, em França, em 1982, ano em que surgiram os primeiros sintomas da doença com que morreu: a esclerose lateral amiotrófica.
Em 1983, foi reintegrado no ensino oficial. Nesse ano, o Presidente da República Ramalho Eanes atribuiu-lhe a Ordem da Liberdade, mas o músico não a recebeu, por se ter recusado a preencher o formulário.
Acabou por morrer na madrugada de 23 de fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal. Tinha 57 anos.”
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Documentário "Não me obriguem a vir para rua gritar" 1/5
Associação José Afonso
Tributo Musical a Zeca Afonso
Vila Morena" - Zeca Afonso @ Revolução dos Cravos, 25 de Abril de 1974
Zeca Afonso - 20 anos depois
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E ainda haverá muito mais a partilhar.
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Não percas o próximo post… porque nós… também não!!!