“Morreu a fadista Celeste Rodrigues, irmã mais nova de Amália Rodrigues. Tinha 95 anos e uma vida dedicada ao fado. Cantou em muitas casas típicas mas foi das primeiras fadistas a cantar lá fora.
(…) A notícia foi divulgada pelo neto, o realizador Diogo Varela Silva na rede social Facebook. Tinha 73 anos de carreira. Entre os fados mais conhecidos da artistas estão temas como “A Lenda das Algas” e o “Fado das Queixas”.
É com um enorme peso no coração, que vos dou a noticia da partida da minha Celestinha, da nossa Celeste. Hoje deixou uma vida plena do que quis e sonhou, amou muito e foi amada, mas acima de tudo, foi a pedra basilar da nossa família, da minha mãe, da minha tia, dos meus irmãos, sobrinhos e filhos, somos todos orgulhosamente fruto do ser humano extraordinário que ela foi.
Que a sua humanidade, bondade e maneira de estar bem com a vida, seja um ensinamento, que nós possamos honrar pelas nossas vidas foras.
Daremos mais informações assim que nos for possível
Na última passagem de ano, a artista passou o momento em Nova Iorque com Madonna, que a chamava de “lenda viva”. As duas cantoras chegaram a gravar um dueto, que foi partilhado no Instagram.
Madonna canta em restaurante
Quanto à influência da irmã, de quem seguiu a mesma carreira, numa entrevista com Júlio Isidro dizia: “Não entendo porque é que dizem ‘viveu à sombra de’… Como? A sombra porquê? Ela era ela e eu era eu. Como as outras todas cantamos fado. ”
Em maio, na celebração dos 73 anos de carreira num concerto no TivoliBBVA, dizia estar “muito contente por os mais novos pegarem” nos fados que cantava”.
Durante estas décadas a cantar fado, fez parte de casas como o Café Latino, o Marialvas, Adega Mesquita, Tipóia e Adega Machado e a Parreirinha de Alfama, de Argentina Santos.
Uma vida dedicada ao fado
Como contou a Lusa em maio deste ano, Celeste Rodrigues em 1953 casou-se com o ator Varela Silva e, em 1957, tornou-se proprietária do restaurante típico A Viela, ao qual renunciará quatro anos mais tarde. Ainda em finais da década de 1950 foi das primeiras fadistas a atuar na televisão, ainda no período experimental da RTP, no teatro da Feira Popular, e “a primeira a enfrentar as câmaras, quando os estúdios do Lumiar passaram da fase de experiências para as emissões regulares”, segundo o “Álbum da Canção”, de maio de 1967.
Em 2005, o encenador Ricardo Pais, então diretor do Teatro Nacional São João, no Porto, convidou a fadista a participar no espetáculo “Cabelo Branco é Saudade”, ao lado de Argentina Santos, Alcindo de Carvalho (1932-2010) e Ricardo Ribeiro, e com o qual fez uma digressão europeia.
Em 2007 editou o álbum “Fado Celeste”, no qual gravou fados tradicionais e inéditos com letras de autores contemporâneos, como Helder Moutinho, José Luís Gordo e Tiago Torres da Silva. Nesse ano foi homenageada pela Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF), no Museu do Fado, num reconhecimento da “voz bonita, capacidade interpretativa e regularidade de uma carreira”, segundo declarações de Julieta Estrela de Castro, presidente da APAF à agência Lusa.
Em 2010, estreou o documentário sobre a sua vida, “Fado Celeste”, realizado pelo seu neto Diogo Varela Silva, e recebeu a Medalha de Prata da Cidade de Lisboa, no cinema S. Jorge. Em 2015, pelos seus 70 anos de carreira, a secção Heart Beat do Festival DocLisboa, abriu com uma remontagem do documentário, intitulado, apenas, “Celeste”.
Em 2012 o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva condecorou-a com a Ordem do Infante D. Henrique, grau de comendador. A fadista continua a cantar, regularmente, em casas de fado, designadamente no Café Luso e na Mesa de Frades, em Lisboa.”
Artigo do jornal Observador
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